quinta-feira, 29 de abril de 2010

Rosa - Ana

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Num jardim com belas flores, certo dia procurei

libertar meu coração, que um dia aprisionei.

Entre Acácias e Margaridas, finalmente encontrei.

Beijei uma linda Rosa, pela a qual me apaixonei.

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É uma flor que tem espinhos, mas não vai me machucar.

Uma Rosa bem cuidada, não tem medo de amar.

Desabrocha flor pequena, ao seu lado quero estar.

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Ó Rosa perfumada, que espera o Beija- flor.

Declaro a ti amada, todo o meu amor.

À tuas pétalas orvalhadas, falo sem pudor.

Escrevo esse poema, à quem meu coração levou.

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Plantei uma semente, que na terra germinou.

A ela dei o nome, que se chama meu amor.

Rosa Ana, Rosa Ana. Por teu nome meu coração clama.

Rosana.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Soneto da menina

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Coitada da menina,

escorrega e cai.

Coitada da menina,

já não quer mais.

Coitada da menina,

mamãe já vai

jogar pela janela esse rapaz.

Coitada da menina.

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Cansou da brincadeira,

que judiação!

Voltou pra mamadeira,

que judiação!

Deixar de ser menina

já não quer não.

Tadinha da menina,

faça isso não.

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Como sofre essa menina,

você devia saber.

Tão ingênua e pequenina,

isso ia acontecer.

Como aquela outra menina

que um dia o fez sofrer

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Foi um sentimento

Algoz e voraz.

Calejado e violento

que pra mim já tanto faz.

Ver crianças judiando

desse coração que um dia jaz.

sábado, 16 de janeiro de 2010

CAMA

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É hora de se deitar. Os dois conversam. Um fala alto, o outro grita. A obviedade de que algo acontece é clara e rotineira. Será algo de errado com ele, que tenta chamar um pouco mais de atenção, ou ela que está sempre disponível aos interesses que sabe que o contrariam? Não sei como ela tenta contornar a situação. Ele sabe que é impaciente e se esforça pra entender tudo o que acontece a sua volta, mas é incapaz de compreender uma realidade diferente à dele. Ela tenta conservar um relacionamento a meio fogo que servirá de porta de fuga a seus caprichos. Ele sabe disso. Ela prometeu sinceridade. Ele foi sincero. O que aconteceu de errado que os fizeram virar cada um para um lado e não os unirem para superar suas barreiras? Uma é infantil demais para perceber o quanto é imatura ao tentar se passar por experiente com seus relacionamentos pouco duradores e mostrando uma falsa imagem de mulher decidida e perfeitinha. O outro é egocêntrico demais para entender que o pouco que a vida lhe ensinou poderia fazer muito para o que os dois viviam. Eu só posso dizer que vejo no fim de tudo o mar, olhando a correnteza trazer a mesma historia que um dia o deixou feliz, como um djavu da lagoa que também a meio fogo um dia o quis ver infeliz.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Desvairados Devaneios

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Sozinhos nos tornamos vulneráveis às maledicências que vem do corpo, pois em minúsculas passadas tentamos decifrar algum anseio para o que vem lá de fora, mas na vida é assim, nunca estamos satisfeitos em conhecer o que nos aguarda, queremos ir além. Nada do que poderíamos encontrar um dia é suficiente. Vai sempre ter alguma coisa faltando. Sinto-me um negro corcel, selvagem, insaciável. Com sede de busca, de poder. Mas eis que em passos lentos, vem surgindo. Vem chegado. Mas não sei até quando, qual o sentido, qual a perspectiva de encontrar um novo valor. Retraio-me. Confundo-me. Me és importante, mas não sei quão importante queres ser. Com punhos fortes, faz-se a decisão. E agora? Onde quero chegar? Com toda certeza não quero desistir tão cedo, tenho ansiedade de chegar a um final, de chegar ao final e poder olhar pra trás e descobrir que em campo não estive sozinho e que se cheguei aonde cheguei foi porque sentia forças para poder continuar seguindo em frente, e se segui foi porque não fui sozinho e aquelas marcas que cobicei, um dia finalmente eu conquistei.

domingo, 20 de setembro de 2009

Por que é que o mar não se apaixona por uma lagoa?

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Ela passava horas tentando chamar sua atenção. Sempre escorria seu corpo ante o dele, mas sentia-se retraída toda vez que percebia que ele nem a notava. Ele, detentor de toda atenção, parecia não dar muita importância para as coisas que aconteciam ao seu redor. Ela era dona de curvas maravilhosas, quase pareciam ter sido esculpidas a mão. Ele, de uma beleza imponente que brincava com o imaginário de muita gente. Chegava a tirar o fôlego daqueles que o contemplavam pela primeira vez. Ela preferia se esconder às sombras daqueles que a cercava, ele gostava de ressaltar sua magnitude à luz da lua cheia.

Ela não conseguia aceitar o curso que seu destino seguia. Vivia na esperança de conseguir mudar as coisas, mas sozinha, era incapaz. Seu leito estava enfraquecido e sentia que já não tinha mais forças para seguir adiante. Ele a observava de longe e via que ela não tinha mais a mesma vitalidade de antes, seu brilho já não era mais o mesmo, mas nada podia fazer para ajudá-la. O período era de seca intensa, e enquanto as primeiras chuvas não chegavam, ele esperava.

A primeira gota que cai em terra leva esperança e a faz transbordar de alegria. No meio do caminho para encontrá-lo, ela acaba descobrindo alguém que passa a trilhar o mesmo caminho que o dela. Ele os vê chegar, e se enche de alegria ao vê-la bem. Ela sente-se a vontade para mostrar o quanto estava bem. Era possível escutar de longe os gritos de felicidade de quem queria mostrar mais que apenas felicidade.

O que ela não sabia era que ele tinha grande admiração por ela, e que a bailarina que dançava em suas águas lhe dava vida toda vez que ela corria para seus braços e o contemplava com seus belos sorrisos. Ele compreendia que o mar pode não se apaixonar por uma lagoa, mas isso em nada o impedia de ter uma história de amor com um final feliz.


Em especial à r. targino

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Levem o Soldado Desertor!

à r. targino
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Era impossível esconder o cansaço. As mãos trêmulas já não tinham mais força para manter a porta aberta. Ele sabia que sua hora estava chegando e que o preço era caro demais para todos que se negaram aquela noite. O medo tomava de conta do seu corpo e provocava calafrios na espinha, como se anunciasse o ataque que o levaria ao chão.
Enquanto cai lentamente, consegue enxergar a patente que imortalizaria sua história. 174. Dois dedos no gatilho e o levaram direto para lutar no exército de Deus.


Era uma época difícil na minha vida. Todos os meus problemas se transformavam facilmente em meras ilusões. Fim de tarde. Eu caminhava de volta para casa quando me deparei com aquela tragédia estampada na primeira capa do jornal. Um acidente fatal deixara órfão um membro da alta sociedade no auge de seus 12 anos. Pela primeira vez na vida me dei conta que o mundo pode ser traiçoeiro com qualquer ser, independendo de sua raça, gênero ou classe social. Nunca imaginei que a desgraça pudesse estar tão próxima, aliás, mais do que já estava.
O vento frio cortava a noite e fazia aqueles que procuram um abrigo recorrerem aos pés de Deus. Na escadaria da Candelária, vários amigos tentavam se esconder em sono profundo. Foi naquela noite que o conheci.
Às doze badaladas, um fecho de luz fere a escuridão que escravizava os meninos de Deus. Abro os olhos, ainda atordoada com o que estava acontecendo e vejo o desespero tomando de conta da multidão refugiada sob os olhos celestes. No corre-corre, muitos ficaram com o grito de misericórdia entalado na garganta.
Fiquei estática, não conseguia se quer sair daquele campo de batalha, foi quando ele veio e me abrigou em seus braços.
Lá fora, o pânico se revezava com a dor. Aqui, tudo o que eu escutava era sua voz, ainda infantil clamando por nossa redenção: “Em vós eu me apoiei desde que nasci, desde o seio materno sois meu protetor; em vós eu sempre esperei”.
Aos poucos, o silêncio vai tomando de conta da rua. Em baixo murmuro, o choro cercava os feridos e o desespero da despedida daqueles jovens soldados convocados precocemente a servir o exército dos anjos. E tudo isso pela ação estúpida cometida pelos inimigos de capa preta chefiados pelo Sargento Pimenta, quem deveria guardar e proteges nossos caminhos.

Muito tempo se passou. Tantos anos sem vê-lo e novamente a gente ali, frente a frente ao apocalipse de nossas vidas. Ele estava diferente, parecia suplicar o perdão divino por ter abandonado seu pelotão aquela noite. A todo tempo eu permaneci ao seu lado, tentando interceder por sua vida, mas ele já tinha traçado o seu destino e eu nada mais podia fazer para salvá-lo. Sua hora estava chegando. Depois de disparar dois tiros contra aquela pobre inocente eu soube que era hora de retribuir o favor daquela noite em que ele ficou suplicou por minha vida quando fui uma das convocadas pelo balaço que atingiu o lado esquerdo do meu peito. Eu e ele agora estaríamos lutando lado a lado, recrutando mais inocentes que lutariam pelo exército de Deus.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Crônicas

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Hoje resolvi postar duas crônicas que escrevi para uma revista eletrônica que será publicada em breve. Espero que gostem!

Cantando de galo

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Cláudio tenta segurar sua vontade. Durante algum tempo, não presta atenção no que se passa ao seu redor, só que não resiste e mais uma vez corre para vê-la passar: Subindo a rua, com aquele vermelho cintilante, vai fazendo o seu trajeto, percorrendo todo o cenário. Subindo lentamente, vai tomando de conta da imaginação até encontrar repouso naqueles braços tão pequenos.
Cláudio está mais que apaixonado. Não consegue resistir aos encantos e por isso se entrega cada vez que ela passa. Vai desenhando todo o seu amor em linhas tortas. De dia ou de noite, de corpo e de alma. As palavras vão traçando o seu caminho, revelando o seu destino e como era de se esperar, Cláudio a leva de encontro ao altar.
Ele adentra o salão. De repente a multidão se cala. As mãos começam a soar frio. É preciso respirar fundo para conseguir dizer uma só palavra. O nervosismo é eminente. Ele a tem, na sua forma mais singela, em suas mãos.
Cláudio limpa a garganta e em poucas palavras consegue expressar todo o sentimento que tem por ela. Ele a ergue em direção ao público, que retribui com uma salva de palmas. Emocionado, Cláudio enxuga as lágrimas que hoje derrama por ter se rendido loucamente à sensualidade da publicidade.
A história apresentada é baseada na premiação do 17º Festival Internacional de Gramado, onde Cláudio Leite (Diretor de criação da agência Propeg- Brasília) ganhou um Galo de bronze na categoria peça individual com o filme "Balão" feito para o Ministério da Saúde.

Somos todos sedutores

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Gabriel acabara de acordar. Meio triste, atordoado, não tem se quer uma companheira para conversar. Ele levanta esfrega os olhos e parte para o banheiro. Liga o rádio, fecha o Box e abre aquela ducha gelada. Enquanto ensaboa o corpo, percebe no rádio a voz de uma mulher narrando uma propaganda qualquer. Em sua mente, logo consegue desenhá-la. Loira, olhos cor de avelã, cintura fina, seios fartos e avantajado e um bumbum empinado.
Ele termina o banho. Desliga o rádio, se enrola na toalha e volta para o quarto onde liga a televisão. Na imagem, uma morena exuberante, de pele aveludada, boca carnuda levemente pintada de vermelho o convidando a usar a nova fragrância da Givenchy. Ele pega o telefone e liga para Cíntia.
Do outro lado da linha, Cíntia atende o celular enquanto espera sua vez de fazer a "progressiva". Ela conversa com Gabriel e vai folheando sua revista preferida. Uma foto lhe chama a atenção. Um homem, de músculos bem torneados, usando apenas uma cueca boxer dando um leve sorriso de canto de boca tentando seduzir ela. Cíntia não consegue tirar os olhos e chega a estremecer a voz ao falar com Gabriel, que acabara de fazer um convite para um jantar romântico.
Gabriel se arruma para encontrar Cíntia. Usa sua cueca boxer, passa o perfume que vira na televisão e parte para buscar Cíntia, que por sua vez passa óleo pelo corpo para ficar com a pele macia e cheirosa.
Durante o jantar, um papo descontraído, muita gente bonita como se o dono do restaurante as contratasse para desfilar no ambiente, duas taças de vinho e Cíntia acaba indo parar no quarto de Gabriel.
Cíntia, que tinha seios pequenos e cintura larga, se exibe para Gabriel com sua pele macia e aveludada, igual ele tinha visto na televisão. Uma boca com traços finos, porém levemente pintada em tom vermelho, atendendo as expectativas dele, que não ficara para trás, desfilando com sua cueca boxer e uma barriga levemente avantajada, mas dono do cheiro que certamente marcará a vida de Cíntia, pelo menos até a manhã seguinte.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Solenidades ao raso

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Novamente me deparo corredo em desespero, me perdendo nessa escuridão, tentando fugir dos estilhaços que invadem minha mente e que me fazem padecer em solidão. Do alto, vejo o clarão do projétil que segue em minha direção, mas se engana quem pensa que pode me atingir. Me deitarei junto aos mortos e como uma fênix que renasce das cinzas, te mostrarei do que sou capaz e quando passar pela sua cabeça que fraquejei, vou te mostrar que mais forte eu retornei, porque aquele soldado que um dia você conheceu decidiu nunca mais abandonar a guerra.